Suas joias, o brilho da sua alma.
Seu sorriso, tão verdadeiro quanto o loiro oxigenado de seus cabelos.
Com cada passo que dava, atraía olhares de inveja e admiração. Amada por todos, tinha tudo para ser feliz.
Uma vez, porém, deixou-se ser um ser humano.
Olhando fixamente para seus olhos, lentamente traçou, com as pontas dos dedos, a imagem do próprio rosto. Com todas as suas forças, tentou encontrar na moça refletida no espelho a menininha que brincava de se esconder atrás do sofá de casa. A menininha que descia as escadas correndo na manhã de Natal para ver seus presentes deixados pelo Papai Noel embaixo da árvore. A menininha que chorou quando sua amiguinha foi embora. A menininha que ajudava a professora a arrumar a sala após as aulas e que trazia flores todos os dias para a mamãe.
Não encontrou nada. Agora, via somente uma casca vazia de sentimentos. Uma boneca, linda e sem vida.
-Cuidado. Não chore, que sua maquiagem vai borrar,- disse uma das modelos.
Mas já era tarde; já havia deixado escapar uma lágrima e depois outra. Lágrimas, essas, que nem lembrava que existiam.
E, com cada lágrima que caía, mais a maquiagem saía e mais a menininha aparecia.
E a bonequinha criou vida novamente.